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As quatro regras "E" da mentalidade global

16/03/2009

As quatro regras "E" da mentalidade global

As pessoas falam o tempo todo em pensamento global, mas o que isso significa realmente?
 
Por Jack Welch com Suzy Welch |

Revista EXAME -

Ora, você sabe a resposta! Você, que nasceu na Austrália e agora trabalha no Ministério do Turismo de Abu Dhabi! Quando nos encontramos em sua nova "cidade natal", tempos atrás, bastou conversarmos uma única vez para que percebêssemos que estávamos diante de uma legítima mentalidade global em ação. "Gosto muito daqui", você disse. "É tão diferente!"

A tranquilidade com que você abraçou a diferença é o fundamento da mentalidade global. Diríamos que se trata de Empatia e colocaríamos essa característica no topo das quatro novas habilidades da liderança global começadas pela letra "E" - imprescindíveis para alcançar o sucesso neste admirável mundo novo e sem fronteiras dos negócios.

Antes de falarmos sobre a Empatia e as demais características novas, vamos retomar rapidamente as antigas, que elaborei uns 20 anos atrás, num esforço para codificar minha visão da liderança eficaz. A primeira delas, Energia, continua valendo até hoje. Trata-se da capacidade de seguir sempre em frente, o tempo todo comprometido e pronto para qualquer desafio. Em seguida vem o "E" de Energizar, que é a capacidade de transmitir energia a outros. A terceira é Escolher, para lembrar que é fundamental decidir - e não ficar paralisado pelo excesso de reflexão. Finalmente, há a Execução, ou seja, é preciso tirar a estratégia do plano das ideias e colocá-la em prática. Essas quatro letras "E", porém, só estarão completas quando amarradas pelo "P" de Paixão, tanto no trabalho quanto na vida.

Bem, no ambiente global de hoje, em que a competitividade está cada vez mais acentuada, essas características continuam a ser importantes, mas existem outras que estão se tornando rapidamente imprescindíveis.

É o caso da Empatia. Em um contexto global de negócios, significa muito mais do que cordialidade e compaixão. É saber entender culturas diferentes, respeitando seus valores e tradições. Na fabricante de computadores chinesa Lenovo (que adquiriu a divisão de computadores pessoais da IBM em 2005), os executivos americanos tiveram de aprender a ficar algum tempo em silêncio durante as reuniões para que seus colegas tivessem a oportunidade de traduzir e entender o que estavam ouvindo. Logo depois da aquisição, a empresa não tinha um calendário corporativo com o período de festas da matriz e da operação americana. Com isso, as pessoas acabavam marcando reuniões no Ano-Novo chinês, por exemplo. Para haver confiança entre as partes é preciso evitar esse tipo de coisa. Em um mundo global, deve-se respeitar o que outras pessoas consideram importante.

Em segundo lugar, temos o "E" de Experimentação. Todo líder deve explorar sem medo novas ideias, produtos e mercados, mesmo quando o retorno não for imediato. No passado, as empresas confiavam a inovação a uns poucos gênios da matriz e simplesmente se apropriavam dela. Hoje, há empreendedores ousados espalhados pelo mundo todo. As multinacionais colhem os frutos da inventividade de seus funcionários onde quer que estejam. Correr riscos virou rotina para as empresas. Conforme disse recentemente Jeff Bezos, principal executivo da Amazon: "Não podemos permitir que investidores de curto prazo e especialistas nos assustem e nos impeçam de experimentar". Ao aludir ao negócio extremamente bem-sucedido da Amazon no segmento de produtos usados e de itens de coleção, Bezos afirmou: "O Marketplace foi nossa terceira tentativa de novo negócio. Os dois fracassos anteriores não nos detiveram. Aprendemos com eles".

O terceiro "E" lembra que devemos dar Exemplo. Como as empresas estão cada vez mais espalhadas pelo mundo, fica muito difícil construir uma cultura organizacional de valores igualmente partilhados. Por isso, líderes de todos os níveis precisam aprender a ser modelos, comportando-se da forma como a empresa espera que eles e todos os demais funcionários se comportem. Nada impede, é claro, que um líder pegue um megafone e saia pela empresa bradando a necessidade de rapidez e transparência. Mas, como todo mundo sabe muito bem, ações falam mais alto do que palavras, principalmente quando as palavras precisam ser traduzidas.

O último "E" é resultante da crescente competitividade do mercado. Trata-se do "E" de Empolgado. Ou melhor, de Empolgado para Vencer. Muita gente vai alegre para o trabalho e cumpre seu expediente sem problemas. Mas o mundo exige do líder uma atitude que vá muito além dessa. "Me dê alguém que esteja dominado pelo desejo de vencer, alguém que odeie perder, e o resto se arranja sozinho", disse Mel Karmazin, presidente da Sirius, empresa de rádio por satélite. "Quem não tiver esse desejo, essa fome, não poderá competir no mundo de hoje."

Concordamos plenamente. É verdade que existem qualidades de liderança que não mudarão jamais. No entanto, o mundo dos negócios ganhou contornos vastíssimos - e é preciso se adaptar a eles.